MEMÓRIA



Brasileiros no Calcio: Zé Maria
Cigano do futebol, Zé Maria encontrou seu lugar na Itália, onde foi ídolo do Perugia (iG)

O começo da década de 1990 foi especial para a Portuguesa. Sempre jogando nas elites do futebol paulista e brasileiro, o time do Canindé foi responsável por revelar alguns dos craques que desfilaram pelos gramados brasileiros da época. Entre eles, um lateral-direito ganhava destaque pela eficácia com a qual atacava e defendia, lembrando os laterais clássicos do futebol, nas linhas de quatro zagueiros que ficaram famosas na década de 1960. Zé Maria fez história com a camisa do Perugia, na Itália, e hoje se considera praticamente um italiano, tamanha sua identificação com o país. Mas antes de brilhar na Serie A, o jogador suou nos gramados brasileiros.

Em uma época na qual a Lusa costumava disputar títulos, Zé Maria foi lançado como uma das grandes esperanças para o futuro. Destaque das categorias de base, estreou entre os profissionais em 1991, com apenas 18 anos. A falta de maturidade, porém, fez com que o lateral não repetisse as atuações que fizeram dele um dos destaques lusitanos na campanha do título da Copa São Paulo daquele mesmo ano. A solução encontrada pela diretoria do time paulistano, então, foi emprestá-lo para clubes de menor expressão. Em 1993, após não se firmar como titular na Portuguesa, Zé Maria foi emprestado para o Sergipe, no qual obteve maior destaque. Na sequência, passou um ano na Ponte Preta, de mais tradição, e também foi bem.

As passagens com futebol em alto nível pelo Nordeste e pelo interior de São Paulo credenciaram o lateral para voltar para a Lusa e disputar posição. Mais maduro, Zé Maria não teve dificuldades para assumir a titularidade na equipe, ganhando destaque em dimensão nacional. Seu bom futebol rendeu uma transferência para o Flamengo, onde ficou finalmente conhecido em todo o Brasil.

Contratado no ano do centenário rubro-negro, em 1996, falhou com toda a equipe naquele ano, destacando-se apenas com a seleção brasileira, com a qual obteve o título do torneio pré-olímpico e a medalha de bronze na Olimpíada de 1996, em Atlanta. Seu bom futebol continuou em destaque, apesar da escassez de títulos no Rio de Janeiro e, com isso, o jogador deixou o Rio de Janeiro para sua primeira aventura internacion
al, sendo contratado, ainda naquele ano, pelo Parma.

Zé Maria chegou à Itália em uma época de bonança dos gialloblù, que com a ajuda da Parmalat montavam times com astros do quilate de Buffon, Cannavaro, Thuram, Zola e Crespo. O lateral-direito brasileiro, então, chegou para disputar posição com o francês, já consagrado em nível internacional como um dos melhores da posição. Com o time indo muito bem dentro de campo - terminou a Serie A daquele ano na segunda colocação, atrás apenas da Juventus de Zidane e Del Piero -, Zé Maria não era titular absoluto.

Buscando ainda mais continuidade, para continuar no giro da seleção brasileira, ele transferiu-se para o recém-promovido Perugia, em 1998, após atuar em 56 oportunidades em duas temporadas na equipe de astros formada pela Parmalat. Na seleção brasileira, era reserva de Cafu, fez parte do elenco que venceu a Copa das Confederações de 1997, mas não pode comemorar tanto: acabou ficando de fora da Copa do Mundo de 1998 porque foi mal na Copa Ouro meses antes.

Sua primeira passagem pelos grifoni, porém, foi fadada ao fracasso que parecia perseguir Zé Maria na Itália. Em meia temporada, teve raras oportunidades de atuar e voltou a viver situação delicada, que já vivera no início de sua carreira. Para recuperar seu melhor futebol, voltou ao futebol brasileiro. Seu destino foi o Vasco, clube que defendeu até junho de 1999 e no qual teve boas exibições, chegando a ganhar o Torneio Rio-São Paulo.

No mesmo ano, transferiu-se para o Palmeiras de Luiz Felipe Scolari para, finalmente, desembarcar, em 2000, no Cruzeiro, último clube que defenderia antes de ser chamado novamente para integrar o elenco do Perugia. Com o futebol revigorado pela passagem no Brasil, o lateral-direito finalmente conseguiria atingir seu ápice na Europa.

Com atuações mais constantes, Zé Maria retomou os bons tempos de Portuguesa e passou a ser uma peça-chave do Perugia do presidente Luciano Gaucci e voltou à seleção brasileira, tendo sido titular no fracasso na Copa das Confederações de 2000, última oportunidade em que vestiu a amarelinha. Dedicou-se, então, inteiramente ao Perugia, que fez campanhas consistentes na Serie A no começo dos anos 2000, alcançando posições no meio da tabela. Entre elas, destaque para o oitavo lugar em 2002, que credenciou o time a disputar a então Copa Intertoto no ano seguinte.

Na extinta competição europeia, os umbros conseguiram a classificação para a Copa Uefa, mas o sonho europeu durou pouco e acabou na terceira fase do torneio, diante do PSV, que eliminou os grifoni após empate em 0 a 0 na Itália e vitória por 3 a 1 na Holanda. Zé Maria, porém, foi um dos destaques da campanha do Perugia. Destaque esse que se repetiria no ano seguinte, na fatídica campanha que resultou no rebaixamento do time para a Serie B. Suas constantes boas atuações, porém, lhe renderam uma transferência para a Inter, aos 31 anos.

No time de Milão, Zé Maria voltou a ter menos chances, sendo integrado ao elenco principalmente por sua experiência. Fez parte do elenco que conquistou, em 2005 e 2006, o bicampeonato da Coppa Italia, além do scudetto de 2006, originalmente conquistado pela Juventus, mas passado para os nerazzurri devido ao escândalo do Calciocaos. Ou seja, a passagem pela Inter rendeu ao lateral-direito seus únicos títulos como profissionais nos clubes pelos quais passou no futebol europeu.

Em 2006, já sem nenhuma chance de atuar na equipe nerazzurra depois da tímida participação na temporada anterior, o brasileiro voltou a peregrinar pelo futebol, passando pelo Levante, da Espanha, e por um período de testes que não resultou em contratação no Sheffield United, da Inglaterra, antes de voltar à Lusa em 2008.

Seu retorno ao time que o revelou, porém, não foi dos melhores. Após divergências com a diretoria da equipe paulistana, logo voltou para a Itália, onde encerrou a carreira atuando pelo pequeno Città di Castello. Após se aposentar, passa então a se concentrar no desejo de se tornar treinador, iniciado no Don Bosco, time de jovens que tem ligação direta com o Perugia, no qual Zé Maria havia sido ídolo. Para melhorar seu desempenho e começar a trabalhar com profissionais, voltou à Inter, na qual realizou estágio com José Mourinho, que faz muitos elogios ao aspirante a treinador.

As palavras de Mourinho abriram as portas do Città di Castello, time pelo qual havia se retirado como jogador. Em apenas uma temporada, o ex-jogador aproveitou para aprimorar seus conhecimentos, fazendo boa campanha na Serie D que seu clube disputou. Depois disso, deixou a equipe e assumiu, no início dessa temporada, o Catanzaro, clube que vive crise societária enorme na Lega Pro e teve de anunciar falência. Hoje, Zé Maria está à procura de um novo clube.

José Marcelo Ferreira
Nascimento: 25 de julho de 1973, em Oeiras, Brasil
Posição: lateral-direito
Clubes como jogador: Portuguesa (1991-1993, 1995 e 2008), Sergipe (1993), Ponte Preta (1994), Flamengo (1996), Parma (1996-1998), Perugia (1998-1999 e 2000-2004), Palmeiras (1999), Vasco (1999), Cruzeiro (2000), Internazionale (2004-2006), Levante (2006-2007) e Città di Castello (2008-2009)
Clubes como treinador: Città di Castello (2009-10) e Catanzaro (2010).
Títulos: Campeonato Sergipano (1993), Campeonato Carioca (1996), Torneio Pré-Olímpico (1996), Copa América (1997), Copa das Confederações (1997), Torneio Rio-São Paulo (1999), Copa do Brasil (2000), Copa Intertoto (2003), Serie A (2005-06), 2 Coppa Italia (2004-05 e 2005-06) e Supercoppa Italiana (2005)
Seleção brasileira: 46 jogos e dois gols
 


Brasileiros no calcio: Aldair


Aldair marca o laziale Riedle em um clássico de 1991-92, logo após a conquista da Coppa Italia (Blog Idman Yurdu)


Durante a década de 90, o Brasil começou a se especializar na prática de revelar zagueiros de grande nível para o futebol internacional. A tradição recente, que perdura até hoje, teve início com Aldair, que desenvolveu sólida carreira na Roma durante 13 anos. A lealdade e personalidade, além do bom futebol, deram a Pluto o status de ídolo do clube.
Antes de passar a integrar o elenco romanista, Aldair integrou o time profissional do Flamengo entre 1985 e 1989, ganhando projeção internacional e transferindo-se para o Benfica, no fim da década. Na equipe rubronegra, capitaneada por Zico, começou a demonstrar elegância, tranquilidade e garra acima da média e foi campeão do campeonato Carioca e do Brasileirão. 180 partidas depois da estreia, foi negociado com o Benfica, para substituir seu ex-companheiro Mozer, vendido ao Olympique de Marseille. Sob comando de Sven-Göran Eriksson, ele foi campeão português e vice da Liga dos Campeões – parou no Milan de Sacchi, Costacurta, Maldini, Rijkaard, van Basten e Gullit.
A ascensão meteórica na carreira fez com que Aldair, já integrante da seleção brasileira, fosse convocado por Sebastião Lazaroni para a Copa do Mundo de 1990. Assistiu do banco de reservas a eliminação para a Argentina nas oitavas de final do Mundial. O zagueiro que nem jogou a competição de seleções, entretanto, permaneceu na Itália: foi a última aquisição do presidente Dino Viola. A Roma comprou Aldair por aproximadamente 3,75 milhões de euros, em valores atuais.
Em Roma, ganhou o apelido de Pluto, pela semelhança com a personagem da Disney, e viveu os melhores momentos da carreira. O primeiro título em giallorosso foi conquistado na temporada de seu debute, ainda sem Zago e Cafu, mas com Berthold e Carboni. Na Coppa Italia, a Roma eliminou o Foggia, Genoa, a Juventus de Roberto Baggio e o Milan “invencível”, que foi derrotado graças a gol contra de van Basten. Na decisão contra a Sampdoria campeã italiana,com Mancini e Vialli, vitória no Olímpico por 3 a 1 e empate em 1 a 1, fora. Nem mesmo o gol contra de Aldair na partida de volta tirou o brilho do brasileiro no título, o único na década de 90. No ano seguinte, a Roma foi freada na Copa Uefa pela Inter de Berti: o marcador agregado na final foi de 2-1 para os nerazzurri.
Mesmo com a fase negativa vivida por uma Roma sem títulos, Aldair mantinha a titularidade com maestria. Por isso, foi convocado por Carlos Alberto Parreira para o lugar de Mozer, machucado às vésperas da Copa do Mundo de 1994. Pluto formou a zaga do tetra com Márcio Santos após lesão de Ricardo Rocha na estreia do Mundial. O setor defensivo do Brasil foi impecável na competição - levou apenas três gols - e Aldair acabou integrando a seleção da Copa.
O senso de posicionamento e marcação para reter a bola no contra-ataque adversário dava o suporte defensivo necessário para que Cafu, contratado em 1996, apoiasse bastante. Não era incomum ver Aldair, já capitão da equipe romana, “brincando” com a bola na zaga para sair da marcação e sair jogando com a bola dominada. A chegada de Zdenek Zeman em 1997-98 fez com que a Roma ficasse mais vulnerável defensivamente, por causa do esquema desbalanceado do treinador, e Aldair acabava tendo dificuldades demais. A idade também ia chegando e o zagueiro perdia velocidade. Perdeu, também, a faixa de capitão, cedida voluntariamente para Francesco Totti, que começava a se tornar o principal jogador da equipe.
Pela seleção brasileira, o zagueiro ainda venceu a Copa América em 1997 e foi vice-campeão mundial em 1998, antes de anunciar a aposentadoria em 1999. No entanto, Pluto teria mais algumas chances em amistoso e foi convocado para jogos das Eliminatórias Sul-Americanas de 2000. A volta, no Maracanã, foi uma lástima: falhou grotescamente no gol do Uruguai, em um empate por 1 a 1, e decretou definitivamente o fim de uma era com a camisa amarela.
Na Roma, as contratações de Fabio Capello e de Walter Samuel deram mais solidez à defesa, mas fizeram com que Pluto começasse a esquentar o banco de reservas. Na temporada do terceiro scudetto romanista, em 2000-01, por exemplo, ele fez apenas 15 partidas da Serie A, enquanto o argentino participou de 31. Em 2002, aos 36 anos, chegou a ouvir o então presidente Franco Sensi dizer que era velho demais para continuar no elenco. Aldair se irritou e tentou provar dentro de campo que ainda era capaz de continuar no time ao fazer 17 jogos na temporada.
Mas o fim estava mesmo próximo. Ao fim da temporada de 2003, no dia 2 de junho, Aldair fez sua despedida da Roma. O Aldair Day levou 40 mil espectadores ao Olímpico. A renda de 492 mil euros foi doada ao Fome Zero. Para homenagear os 13 anos de serviços prestados aos giallorossi, foram convidados atletas como Dunga, Leonardo e Serginho; isso, claro, além de jogadores da Roma como Cafu, Candela, Balbo, Totti, Giannini e Bruno Conti. O jogo acabou empatado em 3 a 3; Pluto marcou duas vezes e ouviu elogios de Capello, que disse que ele foi um dos defensores mais completos com quem trabalhou. Aldair foi ovacionado pelos tifosi em sua volta olímpica na última de suas 415 partidas com a camisa da Roma.
De saída da Roma após 13 anos, Aldair passou pela Serie B em 2003-04 e encerrou a carreira no Genoa. O jogador repensou a aposentadoria em 2005, quando atendeu um pedido de sua esposa para defender o Rio Branco, do Espírito Santo, por apenas dois jogos. Em 2007, o amigo Massimo Agostini o convidou para jogar pelo Murata, de San Marino, onde ainda hoje atua profissionalmente, prestes a completar 46 anos de idade.
Aldair Nascimento dos Santos
Nascimento: 30 de novembro de 1965, em Ilhéus
Posição: zagueiro
Clubes: Flamengo (1985-89), Benfica (1989-90), Roma (1990-2003), Genoa (2003-04), Rio Branco-ES (2004-05) e Murata (2007-hoje)
Títulos: Campeonato Carioca (1986), Campeonato Brasileiro (1987), Campeonato Português (1989), Coppa Italia (1990-91), Serie A (2000-01), Supercopa italiana (2001); 2 Copa América (1989 e 1997), Copa do Mundo (1994), Copa das Confederações (1997), Campeonato Sanmarinês (2007-08)
Seleção brasileira: 93 jogos e 4 gols
















Jogadores: Jair da Costa
Com muita habilidade, Jair foi uma das grandes da Grande Inter, onde até hoje é ídolo (Fcinter.com.br)

O ponta-direita Jair da Costa começou a jogar na Portuguesa, mas alcançou o sucesso na Itália, onde defendeu Inter e Roma. Rápido, de drible fácil e muito técnico, o brasileiro foi uma das principais armas da Grande Inter dos anos 60, do presidente Angelo Moratti e do técnico Helenio Herrera. Jogando pelos nerazzurri, o camisa sete fez 260 partidas, marcou 69 gols e conquistou oito títulos. Na seleção, Jair teve pouco espaço, já que concorreu com jogadores do calibre de Garrincha e Jairzinho.
Nascido em Osasco em uma família pobre, Jair buscou o futebol logo cedo e, aos 20 anos, já era profissional na Portuguesa. Dois anos na Lusa foram suficientes para Aymoré Moreira convocá-lo para o grupo que jogaria o Mundial de 1962. No último amistoso antes da Copa, contra o País de Gales, o ponta-direita fez sua única partida com a camisa amarelinha. No Chile, Jari não saiu do banco de reservas.
Durante o Mundial, Aymoré Moreira promovia treinos para os reservas às quartas-feiras. Um dos espectadores era Helenio Herrera, técnico da seleção espanhola e da Inter. Na volta à Milão, o comandante pediu ao presidente Angelo Moratti a contratação do brasileiro. O Milan também estava de olho no jogador, mas não o quis pelo seu fisíco, considerado frágil. Desta maneira, os nerazzurri levaram Jair, que não conhecia a Inter e muito menos sabia falar uma palavra sequer em italiano.

A aposta foi válida. Foram dois meses até se adpatar ao frio milanês e quando finalmente estreou, mostrou estar em casa. Contra o Genoa, Jair só precisou de dois mintuos para marcar seu primeiro gol vestindo nerazzurro. Com a chegada do brasileiro, que se tornou titular, a Inter, que havia largado muito mal na Serie A, ultrapassou Milan e Juventus para chegar ao primeiro scudetto da era Angelo Moratti, em 1963.

Mas, a Grande Inter comandada por Herrera, e de Giacinto Facchetti, Armando Picchi, Mario Corso, Luis Suárez, Sandro Mazzola e Jair da Costa tinha muito mais para mostrar. Na temporada seguinte, a Europa se pintou de nerazzurro. Na campanha campeã, Jair teve papel de destaque, marcou quatro gols e viu Mazzola ser o grande protagonista da conquista contra o Real de Puskás e Di Stéfano. Ao final do ano, a equipe ainda ganhou a Copa Intercontinental frente ao Independiente.

A temporada de 1964-65 deu quase tudo à Inter de Jair. O scudetto teve ótima participação do camisa sete, que marcou sete gols ao longo da campanha. Na Europa, os nerazzurri caminhavam para o bi. Até a final, o brasileiro havia marcado dois tentos e, na decisão disputada no Giuseppe Meazza, contra o Benfica de Eusébio, ele assumiu o protagonismo. Sob chuva torrencial, Jair marcou o único gol do jogo. Com ajuda da má-condição do gramado, o seu chute supreendeu o goleiro encarnado. No final do ano, novamente título intercontinental contra o Independiente. Faltou apenas a Coppa Italia, perdida na final contra a Juventus, que venceu por apenas 1 a 0.

Antes de deixar a Inter, Jair ganhou mais um scudetto, em 1965-66, e quase conquistou mais outro, ano ano seguinte. A temporada 1966-67 marcou o fim da Grande Inter: o time perdeu a final da Copa dos Campeões para o Celtic e, três dias depois, perdeu para o Mantova e viu a Juventus ultrapassá-la na última rodada, ficando com o título. O time ainda perdeu para o Padova, da Serie B, na semifinal da Coppa Italia. Fora do time titular, preterido por Angelo Domenghini, ele acabou sendo negociado com a Roma, em 1967.

A Roma de Jair ficou apenas na décima posição time capitolino e o brasileiro, apenas um ano depois, retornou para os braços da torcida nerazzurra, que já era presidida desde maio de 1968 por Ivanoe Fraizzoli, novo dono do clube. Ainda muito amado na Inter, jogou mais quatros anos em Milão, acompanhou o surgimento de ídolos como Gabriele Oriali e Roberto Boninsegna, conquistando mais uma Serie A, na temporada de 1970-71, e um vice-campeonato da Copa dos Campeões na temporada seguinte, quando Jair marcou gols importantes e ajudou a Inter a chegar à final, perdida para o Ajax de Johan Cruijff. Após dez anos de Itália, Jair retornou ao Brasil para jogar no Santos de Pelé, pelo qual conquistou um Campeonato Paulista. Antes de perdurar as chuteiras, o ídolo interista jogou por dois anos no Canadá, defendendo as cores do Windsor Star.

Mesmo com o final da carreira, Jair da Costa permanece ligado à Inter. Hoje, o histórico camisa sete nerazzurro vive em Osasco. Em sua cidade natal, ele mantém uma quadra de futsal pintada de azul e preto e com as paredes preenchidas por imagens da sua passagem por Milão. Em 2008, ele esteve no Giuseppe Meazza para as comemorações do centenário da equipe e foi ovacionado quando o narrador Roberto Scarpini anunciou seu nome. Em 2010, Massimo Moratti ofereceu passagens para Jair acompanhar a final da Liga dos Campeões, porém o brasileiro prefiriu assistir ao título nerazzurro de casa e só depois ir à Itália acompanhar a festa da conquista.

Jair da Costa
Nascimento: 9 de julho de 1940, em Osasco
Posição: ponta-direita
Clubes: Portuguesa (1960-62), Inter (1962-67 e 1968-1972), Roma (1967-68), Santos (1972-74) e Windsor Star (1974-76)
Titútlos: 4 Serie A (1962-63, 1964-65, 1965-66 e 1970-71), 2 Ligas dos Campeões (1963-64 e 1964-65), 2 Mundiais de Clubes (1964 e 1965), Campeonato Paulista (1973) e Copa do Mundo (1962)
Seleção brasileira: 1 partida


Brasileiros no Calcio: Amarildo
Logo depois de substituir Pelé à altura na Copa de 1962, Amarildo desembarcou na Itália para jogar pelo Milan, mas viveu seu auge pela Fiorentina (Fifa.com)

Jovem, aos 21 anos, Amarildo cumpriu a missão mais difícil de sua carreira: substituir Pelé à altura na Copa do Mundo 1962. Nelson Rodrigues o chamava de “Possesso”, pelo seu jeito explosivo dentro de campo. O atacante brasileiro conquistou títulos por aqui e também alcançou o sucesso no futebol italiano, exercendo o papel de dar o toque de fantasia aos times que defendeu – Milan, Fiorentina e Roma.
Nascido em Campos dos Goytacazes, Amarildo começou a jogar futebol na sua terra natal. A passagem pelo Goytacaz foi rápida, assim como a estadia no Flamengo, que durou apenas seis jogos e rendeu um gol. Dispensado do rubronegro, ele já pensava em parar de jogar, mas foi convencido a participar de um teste no Botafogo, no qual foi aprovado. Junto ao clube de General Severiano, ele encontrou o sucesso, conquistou seis títulos e foi convocado para a Copa de 1962.

No Mundial do Chile, Pelé se machucou contra a União Soviética e Amarildo o substituiu. A partida decisiva da primeira fase frente à Espanha teve o “Possesso” marcando os dois gols da vitória brasileira por 2 a 1. Porém, mesmo seguindo como titular até a conquista do bicampeonato, todo o protagonismo ficou com Garrincha – seu colega no Botafogo. Didi, Vavá e Nilton Santos também eram seus companheiros no Glorioso e facilitaram muito a sua adaptação à seleção, que vinha com a base campeã em 1958, quando Amarildo ainda não fazia parte da equipe.
Nos anos 60, a Itália voltou a importar muitos jogadores brasileiros, lá eles ganhariam aproximadamente 30% a mais do que em grandes clubes do Brasil. Dino Sani (Milan), Cinesinho (Modena), Mazzola (Milan) e Jair da Costa (Inter) foram alguns que optaram pela ida à Itália. Posteriormente, em 1963 o Milan também contratou Amarildo.
Contra o Santos, na final do Mundial de Clubes de 1963, o brasileiro teve seu primeiro grande desafio em rossonero. Amarildo alinhou ao lado de Mazzola e Gianni Rivera, mas a forte linha ofensiva milanista não foi suficiente para parar o alvinegro praiano de Pelé e cia. O “Possesso” marcou dois tentos na vitória por 4 a 2 no jogo de ida, na volta o placar se inverteu e o título foi decidido na partida desempate, vencida pelo Santos por 1 a 0.
Ele seguiu vestindo rossonero até 1967, ano em que venceu seu único título pelo Milan, a Coppa Italia. Na final contra o Padova, o brasileiro foi um dos titulares da equipe. Foram quatro anos em Milão, tempo em que marcou mais de 30 gols nas 107 presenças pelo Milan. Depois de deixar o Diavolo, teve a Fiorentina como destino. Em Florença, Amarildo chegou ao auge em sua passagem pelo futebol italiano: conquistou o scudetto sendo titular da equipe, que vencia a Serie A pela segunda vez na sua história, com nomes como o meio-campista De Sisti e o artilheiro Mario Maraschi. Depois do título, teve mais um ano na Fiorentina, mas o sucesso da temporada 1968-69 jamais se repetiu.
A Roma foi seu último clube no Belpaese. Pelo clube da capital, jogou 33 vezes e fez 10 gols durante duas temporadas, já no ocaso da carreira. Depois de nove anos na Itália, era hora de Amarildo voltar para o Brasil para encerrar a carreira. O Vasco o contratou, e junto ao Gigante da Colina, o “Possesso” fez parte do elenco campeão nacional em 1974. Não teve destaque, pois jamais se readaptou ao futebol brasileiro e, logo após a conquista, parou de jogar.
Amarildo voltou para Itália, querendo iniciar a carreira de treinador. Começou no Sorso, nas divisões inferiores do futebol italiano. Logo depois comandou o Espérance, da Tunísia, e foi campeão do campeonato nacional em 1985 e da Copa da Tunísia em 1986. Em 1987 deixou o cargo e a carreira de treinador para trás. Voltou a morar na Itália, que havia o acolhido na década de 60.
Em 2007, Amarildo deixou a Itália para finalmente voltar a viver no Brasil. Seu objetivo era voltar a ser técnico, mas o ex-atacante se dizia impressionado: mesmo com a experiencia europeia que possuía, não conseguia um clube para comandar. O América do Rio de Janeiro lhe deu a chance em 2008, mas sua última aventura como comandante não deu certo. Amarildo ficou no comando do alvirrubro apenas por uma semana e viu sua equipe perder por 4 a 2 para o Volta Redonda no único jogo em que a dirigiu. Um fim de carreira ligada ao futebol melancólico demais para um jogador que teve tantas glórias dentro de campo.
Amarildo
Nascimento: 29 de julho de 1939, em Campos dos Goytacazes, Brasil
Posição: Atacante, ponta-esquerda

Clubes como jogador: Goytacaz (1956-57), Flamengo (1958), Botafogo (1958-63), Milan (1963-67), Fiorentina (1967-70), Roma (1970-72) e Vasco (1972-74)
Clubes como treinador: Sorso (1981-83), Espérance (1984-87) e América-RJ (2008)
Títulos: 2 Campeonatos Cariocas (1961 e 1962), 1 Torneio Rio-São Paulo (1962), 3 Torneios Início do Rio de Janeiro (1961, 1962 e 1963), 1 Coppa Italia (1966-67), 1 Serie A (1968-69), 1 Campeonato Brasileiro (1974), 1 Campeonato Tunisiano (1985), 1 Copa da Tunísia (1986) e 1 Copa do Mundo (1962)
Seleção brasileira: 25 jogos e 9 gols
 

Brasileiros no calcio: Zico

Um dos grandes jogadores do futebol brasileiro, Zico fez história no Brasil e jogou duas temporadas na Udinese. Na Itália, mesmo sem títulos e sem grandes conquistas no Friuli, ficou o mito (ilfriuli.it)

"A torcida é uma coisa muito bonita, mas cadê a grana?", resume José Antunes Coimbra, 82 anos. "A proposta da Udinese era fantástica", emenda Matilde da Silva Coimbra, 63. As frases são do pai e da mãe de Arthur Antunes Coimbra, o Zico, em entrevista à Revista Veja de junho de 1983. O time friulano desejava – e muito – ter Zico em seu plantel. O sentimento do adeus era mútuo. O Flamengo também já sabia que não conseguiria prender o jogador por mais tempo. O craque achava a mesma coisa.
Ele nasceu Arthur, mas era chamado de Arthurzinho ou Arthurzico porque era franzino e pequeno. Ainda na infância, uma das primas dele, Ermelinda, reduziu o apelido para Zico. E pegou. Ajudado pelo radialista Waldyr Amaral, o jogador chegou ao Flamengo aos 13 anos, fez um teste na base sob supervisão de Modesto Bria e logo começou a fazer uma preparação física especial com o professor José Roberto Francalacci. Zico ganhou massa muscular para suportar os choques com os marcadores adversários. O resultado começou a ser escrito quatro anos depois, quando o meia entrou pela primeira vez em campo pelo time profissional. De 1971 a 1983, o habilidoso destro conquistou 22 títulos com o Rubro-Negro.
Uma exuberante quantia, porém, o separava da Itália. Zico recebeu um milhão de dólares na assinatura de um contrato válido por três anos com a Udinese, ao longo dos quais ganharia outro milhão, além de salários totalizando 540 mil dólares. Ao Flamengo, o clube de Údine pagou quatro milhões de dólares – valor muito alto para um clube que só havia voltado para a Serie A quatro anos antes. O presidente carioca, Antônio Augusto Dunshee de Abranches, simulou chorar frente às câmeras pela perda do craque de tantos gols (em suas duas passagens, Zico marcou 509 gols em 731 jogos pelo Mengo). Para acalmar o ânimo da torcida, o meia afirmou que era o clube que decidiria se ficaria; o dirigente jogou a bomba novamente para o jogador.
O técnico Carlos Alberto Torres tentou tranquilizar a massa rubro-negra dizendo que “Zico tinha que ir mesmo, pois a proposta era irrecusável”. O próprio jogador sabia que não podia recusar a oferta. Seu irmão, Edu Coimbra, abreviou a carreira porque no seu auge preferiu ficar no América (RJ) ao invés de se transferir para o Corinthians. Outro motivo da saída foi a lembrança da história de Dida, dono por muitos anos da camisa 10 do Flamengo. Em 1983, então auxiliar técnico da equipe infantil do clube carioca, disse: "Eu também tive uma oportunidade de me transferir para a Itália. Mas era Flamengo de coração, os diretores diziam que meu passe era inegociável e eu ficava orgulhoso. Perdi boas chances”. Zico seguiu os passos de Mazzola e desembarcou na Itália.
Porém, problemas conturbavam o aeroporto de Ronchi dei Legionari. Dirigentes da Roma, clube que chegou a sondar Zico, tentou suspender a transferência por achar que a quantia era demasiado alta. Cerca de 10 mil pessoas foram a Piazza XX Settembre para manifestar contra esta manobra. O recado era claro: “ou Zico ou Áustria” (em menção ao domínio austríaco que existiu no Friuli até 1866). Essa ameaça separatista foi levada muito a sério pelo então presidente italiano, Sandro Pertini, que interveio a favor da contratação.
Na chegada, o frisson: duas mil pessoas esperavam o Galinho de Quintino. Franco Marin, dono do hotel Là di Moret, primeira casa do jogador em Údine, afirmou que parecia que o Papa estava acenando para a multidão tamanha a idolatria dos torcedores por Zico. O nono lugar na primeira temporada foi ofuscado pela maravilhosa época individual que o jogador teve. Ele marcou 19 gols, apenas um atrás de Michel Platini, artilheiro do campeonato e da campeã Juventus, que jogou seis partidas a mais devido à lesão do brasileiro durante um amistoso contra o Brescia.

No Brasil ou na Itália, os goleiros temiam as cobranças de falta do jogador. A maestria da batida gerava discussões em programas esportivos nos canais de televisão. “Como evitar gols de Zico?”, diziam. Dos 57 gols marcados com a camisa bianconera, 17 foram de bola parada. Mas dois são lembrados em especial. E foram com a pelota rolando. Em 1983, o camisa 10 marcou aos 41 minutos do segundo tempo, o único gol da vitória sobre a então campeã Roma – que nunca havia sido derrotada pela Udinese. Na primeira partida no San Siro, contra o Milan, a equipe do Galinho perdeu por 3 a 2, mas ele deu assistência e marcou um gol de bicicleta.

Mas Zico não queria que a equipe dependesse apenas de si. A Udinese prometeu investir para lutar pelo scudetto, o que não aconteceu. Ele, então, começou a sonhar com o retorno ao Flamengo. Na segunda e última temporada do jogador na Itália, em 1984-85, Zico jogou 15 partidas.
O jornal italiano La Repubblica, em 2006, realizou uma pesquisa sobre os dez maiores jogadores brasileiros na Itália. O nome do ex-jogador, treinador e diretor de futebol rubro-negro aparece em primeiro, seguido por Falcão, Kaká e Careca. Três anos mais tarde, ele recebeu o título de cidadão honorário de Premiaracco. “Para nós, friulanos, Zico tem o mesmo significado de um motor da Ferrari colocado dentro de um fusca. Sentimo-nos os únicos no mundo a possuir um carro tão maravilhoso e absurdo”, afirmou Luigi Maffei, jornalista do “Il Gazzettino de Veneza”.

Arthur Antunes Coimbra, Zico
Nascimento: 3 de março de 1953, no Rio de Janeiro (BRA)
Posição: meia
Clubes como jogador: Flamengo (1971-89), Udinese (1983-85), Kashima Antlers (1991-94)
Carreira como técnico: Kashima Antlers (1999), Seleção Japonesa (2002-06), Fenerbahçe (2006-08), Bunyodkor (2008-09), CSKA Moscou (2009), Olympiakos (2009-10)
Títulos como jogador: 9 Taça Guanabara (1972, 1973, 1978, 1979, 1980, 1981, 1982, 1988 e 1989), 7 Campeonatos Carioca (1972, 1974, 1978, 1979, 1979 - especial -, 1981 e 1986), 2 Troféus Ramón de Carranza (1979 e 1980), 4 Campeonatos Brasileiros (1980, 1982, 1983 e 1987), 1 Mundial Interclubes (1981), 1 Copa Libertadores da América (1981), 1 Copa Kirin (1988) e 1 Torneio Pré-Olímpico com a seleção brasileira (1971)
Títulos como técnico: Copa da Ásia (2004), Copa Kirin (2004), Campeonato Turco (2007), Supercopa da Turquia (2007), Copa Antalya (2007), Copa do Uzbequistão (2008), Campeonato Uzbeque (2008), Supercopa da Rússia (2009), Copa da Rússia (2009)
Seleção brasileira: 94 jogos e 68 gols

Brasileiros no calcio: Cafu
Cafu é saudado pela torcida da Roma após a conquista do scudetto: o brasileiro teve o mundo em suas mãos e a Itália aos seus pés (Asromaultras.org)


Personagem de uma dessas histórias que recheiam livros de auto-ajuda. Assim poderia ser definido Marcos Evangelista de Morais, o Cafu. Muito antes de declarar todo amor à esposa e erguer o pentacampeonato do Brasil, em 2002, o lateral-direito passou por tempos difíceis, que quase o fizeram desistir de se tornar jogador profissional. Afinal não é qualquer garoto de 18 anos que suporta passar por nada menos do que dez peneiras para, após ser rejeitado em nove, finalmente conseguir sua chance.

Para a sorte do futebol, que ganhou um dos melhores laterais-direitos de sua história, Cafu foi aceito, em 1989, para integrar a equipe de juniores do São Paulo - equipe que, assim como seus grandes rivais, já o havia rejeitado em outras oportunidades. Ágil e veloz, o garoto logo foi colocado para atuar pelas beiradas do campo, como atacante. Entre os garotos de sua idade, era soberano. A facilidade em cair pelas pontas e levar a bola para a área, além de uma finalização precisa e um físico invejável chamaram a atenção de Telê Santana.

Atento, o lendário treinador integrou o jovem Cafu, então com 19 anos, para atuar no estelar elenco são-paulino que ia sendo montado no início da década de 1990. O destaque das categorias de base, então, passou a fazer jus à chance concedida por Telê e mostrava o mesmo futebol explosivo que o alçou aos profissionais. Não demorou e o jovem logo se fixou entre os titulares do São Paulo. Já campeão paulista em 1989, como reserva, Cafu repetiria o feito em 1991, desta vez como titular. No mesmo ano, ainda foi campeão brasileiro pela primeira vez, garantindo passaporte para a Libertadores do ano seguinte.

Foi no torneio continental que o lateral-direito explodiu de vez, atuando como ponta-direita do time de Telê. Cafu tinha a capacidade de atacar e voltar para marcar com fôlego irreparável, fato que o levou a ser essencial taticamente para o Tricolor que em 1992 se sagraria campeão da América e na sequência do mundo, fato repetido em 1993. Destaque nas campanhas vitoriosas que colocaram o São Paulo em destaque no planeta inteiro, o jovem jogador logo despertou interesse do exterior. Porém, ficou no clube paulista até 1995, tempo para ser eleito, em 1994, o melhor jogador das Américas.

Já conhecido mundialmente após as campanhas vitoriosas do São Paulo e por ter feito parte - como reserva - do elenco do Brasil que conquistou o tetracampeonato mundial, Cafu finalmente conseguiu embarcar para o exterior. O destino, porém, não foi dos mais animadores: em 1995 o lateral foi vendido ao mediano Real Zaragoza, pelo qual disputou apenas 16 jogos. A pequena quantidade de partidas, no entanto, não o impediu de somar mais um título ao seu currículo, o da já extinta Recopa Europeia.

A passagem pela Espanha acabaria um ano depois de ter começado, com oferta da gigante multinacional Parmalat, famosa por investir no futebol durante a década de 90. Grande parceira do Palmeiras, um dos arquirrivais são-paulinos, a empresa adquiriu os direitos de Cafu junto ao Zaragoza, fazendo com que o jogador retornasse ao Brasil. Para driblar uma cláusula imposta pelo São Paulo que impedia o retorno do lateral para qualquer um de seus rivais paulistas diretamente da Europa, a empresa italiana, então, repassou o jogador para o Juventude, clube que também patrocinava. Após disputar apenas dois jogos na equipe gaúcha, Cafu finalmente chegou ao Palmeiras.

A polêmica chegada do lateral ao time alviverde gerou revolta em dirigentes e torcedores são-paulinos, mas não atrapalhou o desempenho do jogador sob o comando do então ascendente Vanderlei Luxemburgo. Mesmo atuando mais recuado do que nos tempos de São Paulo, Cafu não teve dificuldades para se destacar, anotar seus gols e integrar o time que venceu o Paulistão de 1996 marcando mais de 100 gols em sua espetacular campanha. Feito suficiente para que os olhos de grandes times europeus voltassem a brilhar mirando o jogador. Desta vez, porém, a transferência aconteceu para um grande europeu: na janela de transferências de julho de 1997, Cafu assinou contrato com a Roma.

A trajetória do lateral na equipe da capital italiana, como esperado, foi marcada por vitórias. Titular com status de craque, Cafu assumiu a camisa 2 dos giallorossi e sem muita demora se tornou um dos ídolos daquela geração romanista. A força física que o fazia ser destaque desde o ínicio de sua carreira logo impressionou os italianos, que passaram a se referir ao brasileiro como Il Pendolino - algo que, em português, significaria O Trem Expresso. A passagem na Roma, porém, marcava algo diferente para o jogador: ao contrário do que ocorrera em seus outros clubes, Cafu não conseguia levar a equipe aos títulos.

O panorama desfavorável, no entanto, passaria a mudar com a chegada, em 1999, do treinador Fabio Capello. Já consagrado por seus títulos no Milan e por sua passagem no Real Madrid, o técnico mudou o estilo de jogar do time capitolino, colocando em campo uma formação com três zagueiros. As mudanças passaram a ter efeito já na segunda temporada do comandante à frente dos giallorossi, 2000-01. Com Antonio Carlos Zago, Walter Samuel e Jonathan Zébina na formação da zaga romana, Cafu voltou a atuar como ala e passou a ter mais liberdade para atacar os adversários.

Avançando pela direita e formando um meio-campo que ainda contava com Francesco Totti em seu auge físico, Cafu foi fundamental para que a Roma saísse de uma fila que durava desde 1983, quando ainda com Falcão o time conquistara a Serie A. A conquista do scudetto em 2001 marcou o auge giallorosso sob o comando de Capello e com o lateral brasileiro em seu elenco. A participação do Pendolino no final da fila romana o imortalizou como um dos grandes ídolos da torcida em toda a história.

Em meio à alegria de ter conquistado o scudetto com a Roma e ter se fixado como um dos melhores jogadores em atividade no mundo, Cafu teve, no ano seguinte, o que definiu como sua maior alegria no futebol. Após fracassar com o Brasil na Copa da França, em 1998, o jogador foi escolhido pelo técnico Luiz Felipe Scolari como capitão do time que jogaria o Mundial de 2002, realizado no Japão e na Coreia do Sul. E dessa vez, nem o Brasil e nem Cafu decepcionaram, com o lateral erguendo a taça em cima de um pedestal ao final da competição, em sua maior conquista como profissional.

O retorno para a Itália com uma Copa do Mundo na bagagem colocou Cafu mais ainda como um dos gigantes do futebol mundial. Já considerado por muitos como um dos maiores laterais-direitos de toda a história, o jogador mostrava uma inteligência rara, que fazia com que a idade não pesasse em seu jogo. Vendo o craque desta forma, o Milan foi o grande responsável por acabar, ao fim da temporada 2002-03, com o ciclo do atleta na Roma.

Ao desembarcar em Milão, Cafu deu de cara com um time ainda mais forte do que sua equipe anterior - que, aliás, entrou em decadência após a saída do jogador, passando de campeã a um segundo lugar e posteriormente uma modesta oitava colocação. Com craques como Rivaldo, Maldini, Nesta e Kaká ao seu lado, o lateral finalmente conquistou o título que lhe faltava no currículo: a Liga dos Campeões da Europa. Antes, porém, Cafu voltou a se tornar campeão italiano, em 2004. Cada vez mais recuado, o atleta agora integrava um dos mais fortes sistemas defensivos do mundo. E, mesmo que com menos frequência, seguia dando suas investidas ofensivas.

A consagração máxima do lateral com a camisa rossonera, como já dito, aconteceria com a conquista da Europa, em 2007. Após uma campanha regular da equipe de Milão, um fantasma apareceria diante dos olhos do Milan na final: dois anos depois do vexame de abrir 3 a 0, ceder o empate e o título ao Liverpool, mais uma vez os ingleses eram os adversários na grande final. Traumas superados, Cafu e seu time conseguiram levar para a Itália o sétimo troféu rossonero da Liga dos Campeões. O lateral, então, tinha seu currículo completo.

Campeão em simplesmente todos os times pelos quais passou, Cafu encerrou sua carreira em 2008 da forma que merecia. Em sua última partida o lateral-direito enfrentou, jogando pelo Milan, a Udinese. Marcou o último dos quatro gols rossoneri e deu adeus ao futebol. Hoje, dedica-se à Fundação Cafu, entidade que mantém para ajudar jovens carentes na zona sul de São Paulo.

Cafu
Nascimento: 7 de junho de 1970, em São Paulo
Posição: lateral-direito e ponta-direita
Clubes: São Paulo (1989-1995), Real Zaragoza (1995), Juventude (1995), Palmeiras (1995-1997), Roma (1997-2003), Milan (2003-2008)
Seleção brasileira: 148 jogos e cinco gols*
*Cafu é o recordista de partidas jogadas pela Seleção Brasileira
Títulos: 4 Campeonatos Paulistas (1989, 1991, 1992 e 1996), 1 Campeonato Brasileiro (1991), 2 Copas Libertadores (1992, 1993), 3 Mundiais Interclubes (1992, 1993 e 2007), 2 Recopa Sul-americana (1993, 1994), 1 Supercopa Libertadores (1993), 1 Recopa Europeia (1995), 2 Serie A (2000/01 e 2003/04), 2 Supercoppa da Italia (2001 e 2004), 1 Liga dos Campeões da Europa (2006/07), 2 Supercopa Europeia (2003 e 2004), 2 Copa do Mundo (1994 e 2002), 2 Copa América (1997 e 1999) e 1 Copas das Confederações (1997)
 
 

Brasileiros no Calcio: Toninho Cerezo


Cerezo, pela Sampdoria, atingiu seu auge no futebol europeu (Testimoni di Genova)


Um lance, apenas um lance quase manchou toda uma carreira marcada por vitórias que durou expressivos 23 anos. A cultura brasileira praticamente obriga que exista um culpado em cada eliminação da seleção canarinho em Copas do Mundo e, em 1982, o escolhido foi Toninho Cerezo. Mas, assim como Zico (que herdaria seu cargo de vilão quatro anos mais tarde), Cerezo será lembrado não por um erro, mas sim pelas inúmeras vezes em que presenteou a nós, admiradores do bom futebol, com jogadas de rara classe.

Assim como grande parte dos astros magnos brasileiros, Cerezo tem origem humilde. Para poder fazer o seu primeiro teste, no Atlético-MG, o menino trocou sua bicicleta por um par de chuteiras. Foram necessários apenas 20 minutos de atividade para que o treinador, Zé das Camisas, se convencesse de que estava presenciando o nascimento de uma jóia.

Ainda nas categorias de base do Galo, Cerezo foi emprestado ao Nacional-AM e, apenas em 1974 estreou pelos profissionais do clube mineiro, no qual jogou até 1983. Nesta passagem pela sua equipe de coração, o craque conquistou sete campeonatos estaduais. Ainda pelo Galo, Toninho Cerezo começou sua carreira na seleção brasileira, para a qual recebeu a primeira convocação em 1977 e, um ano depois, fez parte do grupo que atingiu a terceira posição na Copa de 1978, na Argentina.

Após nove anos mantendo-se em altíssimo nível, e já tendo disputado duas Copas do Mundo, atraiu a atenção da Roma e rumou para a capital italiana. Na Europa, Cerezo teve dificuldade para se adaptar, principalmente ao frio, mas ainda assim, conquistou duas Coppa Italia. Em 1986, Cerezo foi convocado para a Copa do Mundo do México, mas poucas semanas antes do início da competição acabou cortado por lesão. Também em 1986, o brasileiro trocou de clube na Itália e passou a defender a Sampdoria.

Na equipe blucerchiata, Cerezo reencontrou a essência de seu futebol e voltou a encantar a todos com belíssimas atuações. Em 1988 e 1989 conquistou o bicampeonato da Coppa Italia pela equipe doriana, e, no começo da década de 90 alcançou juntamente com o clube o seu ápice no futebol europeu. No dia 15 de maio de 1991, Pluto (apelido recebido devido a suas passadas largas) gravou seu nome na história do clube genovês ao marcar um dos gols na vitória sobre o Lecce por 3 a 0, que garantiu o único título da equipe na história da Serie A. Também na temporada 91, o mineiro teve destaque na conquista da Supercopa Italiana, quando na final derrotou justamente sua ex-equipe, a Roma, por 1 a 0. O título lavou a alma da equipe, que havia batido na trave em 1988 e 1989, quando perdeu para Milan e Inter, respectivamente.

Na Liga dos Campeões de 1992, a equipe treinada pelo iugoslavo Vujadin Boskov, que tinha um inspiradíssimo Gianluca Vialli no comando do ataque e contava com astros como Pagliuca, Lombardo e Mancini, atropelou seus adversários e chegou a final da competição. Porém, em um Wembley com mais de 70 mil espectadores, sucumbiu a um estrelado Barcelona, que, com um gol de falta do holandês Koeman, no segundo tempo da prorrogação, venceu por 1 a 0.

Após participação ativa nessa brilhante temporada, Cerezo se despediu da Sampdoria após disputar 166 partidas pelo clube e voltou ao Brasil para jogar pelo São Paulo. Foi um dos comandantes da equipe paulista nos diversos títulos internacionais conquistados no início dos anos 90, entre eles, o bicampeonato do Mundial Interclubes. Depois disso, teve uma breve passagem pelo Cruzeiro, voltou ao São Paulo e, já aos quarenta anos, jogou por América-MG e encerrou sua carreira no clube em que começara sua vida no futebol, o Atlético-MG.

Como treinador, conquistou títulos no Kashima Antlers, do Japão, e no Al-Shabab, dos Emirados Árabes, mas em times brasileiros não obteve muito sucesso. Teve campanhas apagadas no Guarani, Atlético-MG, Vitória e Sport, que em nada lembram seus dias dentro dos gramados.

Toninho Cerezo
Nascimento: 21 de abril de 1955, em Belo Horizonte.
Posição: Meio-campista
Clubes como jogador: Atlético-MG (1972-73), Nacional-AM (1973-74), Atlético-MG (1974-83), Roma (1983-86), Sampdoria (1986-92), São Paulo (1992-93), Cruzeiro (1994), Lousano Paulista (1995), São Paulo (1995-96), América-MG (1996) e Atlético-MG (1997).
Títulos: 4 Coppa Italia (1983-84, 1985-86, 1987-88 e 1988-1989), 2 Mundiais Interclubes (1992 e 1993), 2 Recopas Sulamericanas (1993 e 1994), 1 Serie A (1990-91), 1 Recopa Europeia (1989-90), 1 Copa Libertadores da América (1993) e 1 Supercopa Sulamericana (1993).
Observação: Contabilizamos apenas competições nacionais e internacionais.
Seleção brasileira: 74 jogos e 7 gols.

Brasileiros no calcio: Julinho Botelho


Julinho Botelho, à sombra de Garrincha, foi ídolo na Fiorentina dos anos 50 (Terceiro Tempo/iG)

Júlio Botelho, ponta-direita de velocidade pouco comum e de habilidade igualmente surpreendente jogou na época de Garrincha, e por isso não teve tanto destaque na seleção canarinho. Mas em sua carreira em clubes, o Flecha Dourada – apelido dado pela sua velocidade – foi muito bem e precisou de apenas quatro anos para se tornar ídolo na Itália, onde a torcida viola nunca o esquecerá.

Julinho Botelho é mais um caso de atleta que não teve sucesso no primeiro clube em que passou. O ponta-direita chegou a ser dispensado das categorias de base do Corinthians e, com isso, tomou o caminho da Mooca, onde se profissionalizou no Juventus, aos 21 anos. Logo, Julinho chamou a atenção da Portuguesa, que o contratou após apenas seis meses de trabalho na equipe principal do clube da Rua Javari.

A primeira vez que Julinho soube o significado da palavra ídolo foi jogando pela Portuguesa. Na Lusa, foram quase duas centenas de jogos oficiais, período pelo qual marcou 90 gols. A partida mais memorável do ponta-direita pelo clube ocorreu em 1951, em uma vitória por 7 a 3 sobre o Corinthians que havia lhe dispensado. Julinho, nem precisava dizer, saiu vingado: anotou quatro vezes.

As boas exibições fizeram com que Zezé Moreira, técnico da seleção brasileira, o convocasse para o Mundial de 1954, disputado na Suíça. Depois da Copa, mais um ano em boa forma com a Lusa e finalmente a transferência à Itália. À época, pelo valor de 5,5 mil dólares, Julinho Botelho foi a contratação mais cara do time de Florença, em 1955. Julinho deu a resposta em campo. Em sua segunda temporada com os viola, ajudou o time a conquistar o primeiro scudetto da história do clube de Florença. Nos anos seguintes, dois vice-campeonatos, com títulos da Juventus.

Tudo ia bem para o time da Toscana, até que o “Flecha Dourada” se cansou da Itália; estava com saudade de seu país. A Fiorentina fez de tudo para ele ficar, mas a volta ao Brasil era inevitável. A torcida o apelidou de “Senhor Tristeza” e o Palmeiras foi seu caminho na volta.

Os viola jamais esquecerão de Julinho. Houve um dia em que o ponta viajava de trem e para evitar o enorme assédio, teve que ficar no banheiro durante todo o trajeto. Em Florença também existe um restaurante no qual o “Flecha Dourada” tinha seu lugar reservado. Até hoje, a placa em homenagem ao “Il Signore Júlio Botelho” está pendurada na parede do restaurante.

Julinho também alcançou a idolatria na volta ao Brasil. Com o Palmeiras foram nove anos e cinco títulos: dois campeonatos nacionais, um Rio-São Paulo e três estaduais. Defendeu o alviverde paulista por 269 partidas e fez 81 gols, cravando seu nome na galeria de ídolos do Palmeiras.

Jogando no Brasil, o Flecha Dourada seguiu sendo convocado pela seleção brasileira e em 1959 viveu seu grande momento com a amarelinha. Contra a Inglaterra, no Maracanã, Julinho foi escalado no lugar de Garrincha. O estádio esperava ver Mané jogar e só descobriu a escalação de Júlio Botelho, quando o sistema de som anunciou a novidade. A resposta da torcida foi a “maior vaia da história”, porém Julinho mostrou personalidade, marcou um gol aos dois minutos e ainda deu o passe para o outro gol da vitória por 2 a 0 frente aos ingleses. Ao final da partida, só se ouviam aplausos ao ex-jogador da Fiorentina.

No ano de 1967, Julinho encerrou a carreira com um jogo de despedida contra o Náutico, uma vitória no Palestra Itália lotado. A idolatria da torcida viola continuou: sempre que visitou o clube foi tratado como uma entidade e foi, inclusive, homenageado antes de uma partida na década de 80. Seu último negócio foi administrar uma quadra de futsal, antes de falecer na Penha, onde passou quase toda a sua vida.

Júlio Botelho
Nascimento: 29 de julho de 1929, em São Paulo
Posição: Ponta-direita
Clubes como jogador: Juventus (1950-51), Portuguesa (1951-55), Fiorentina (1955-58) e Palmeiras (1958-67)
Títulos: 3 Torneios Rio-São Paulo (1952, 1955 e 1965), Serie A (1956), Taça Brasil (1960), 3 Campeonatos Paulista (1959, 1963 e 1966), Torneio Roberto Gomes Pedrosa (1967) Copa Rocca (1960) e Campeonato Pan-Americano (1956)
Seleção brasileira: 31 jogos e 10 gols

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